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Violência sem sangue

  Ao pensar em violência, de imediato, surgem nas nossas mentes associações à empurrões, socos, ponta pés, sangue jorrando do nariz e tiros de fuzil estourando os miolos de um moleque num morro qualquer do Rio de Janeiro. Acostumamos a enxergar a violência com os olhos do absurdo, do espanto e do estrago físico. Não é errado, porém agindo assim limitamos nosso globo ocular e amansamos nosso córtex pensante. 
  A violência não é só a que sangra. Ao abrir o portão de casa, virar a esquina e se deparar com um idoso empurrando uma carroça cheia de papelão, é violento. Se deparar com uma criança sem camisa, de chinelo e bermuda, vendendo balas no sinal, é violento. Uma familia inteira improvisando um barraco de lona embaixo de um viaduto ou próximo de avenidas congestionadas, é violento pra caralho. Trabalhar 44 horas semanais, 6 dias por semana e no final do mês não ter um grão de alimento no armário, é mega violento. Sem falar nas gôndolas dos mercados que funcionam como socos nos estômagos de pais e mães de família espalhados ​​pelo Brasil. Ainda posso falar da violência do preço do gás de cozinha, que hoje, custa duas onças. Posso falar da violência do preço do combustível, que hoje, custa quase 1 pino de cocaína. Posso falar da violência do preço do café, que hoje, custa uma nota amarela de vinte. Não posso me esquecer da violência nas escolas públicas, onde encontramos salas sem sequer um ventilador funcionando. Salas com 50 alunos abarrotados. Salas sem professores. Recreios sem merendas que suprem a necessidade alimentar diária. Escolas sem lousa, sem computadores, sem estímulo para que o aluno deseje voltar no dia seguinte. Compreender a violência sem sangue é necessário, pois só com o extermínio dela será possível algum avanço por aqui.
  Extirpar a violência sem sangue se torna uma tarefa árdua porque ela existe por um único motivo, a manutenção da classe dominante. Estamos apanhando o tempo todo e muitas vezes de guarda baixa. Apanhando o tempo todo sem sequer enxergar o inimigo. E apanhar não é nossa sina. De agora em diante revide. Alaúde. Conquiste. 

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